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a descompan(h)ia Demo_lições Artísticas iLTDAs: 

Breve histórico

A Descompan(h)ia Demo_lições Artísticas iLTDAs pode ser vista como um desdobramento de uma experiência ocorrida no Projeto Teatro Vocacional, em sua edição de 2007, no CEU Jambeiro, na região de Guaianases, extremo leste da cidade de São Paulo. Em uma turma orientada pelo artista Luiz Claudio Cândido ocorreu um fato sui generis que foi fundamental para a consolidação da Descompan(h)ia: aproximando-se dos contornos de uma jazz session teatral alguns participantes de grupos distintos compartilhavam, naquele espaço físico e temporal, criações com novatos a despeito das escolhas estéticas de seus grupos de origem.

 

Esta experiência resultou numa intensificação de troca entre os participantes que puderam tomar conhecimento das diversas maneiras de condução de um processo vivenciado em cada um dos grupos. Existia uma alta rotatividade de participantes mas isso não constrangia a criação, ao contrário, fomentava-a porque a cada novo participante que adentrava aquele espaço poderiam surgir novas possibilidades estéticas e reflexivas. Ali podíamos experimentar e vivenciar outras práticas diferentes daquelas que encontrávamos nos nossos grupos ou turmas de origens.


Em 2008, estimulados e empolgados com essa dinâmica processual desenvolvida, este grupo de artistas moradores da região e de outras regiões resolvem, então, dar continuidade à essas inquietações desencadeadas no Programa Vocacional e, em parceria com a comunidade da região, dão início às atividades artísticas da Descompan(h)ia, então Descompan(h)ia Teatral.

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De lá para cá são sete anos vivenciados em nosso coletivo. Até o presente momento desenvolvemos 5 (cinco) processos criativos, a saber, troço n.#1/navalha na carne (2008-2009), troço n.#2/ Bákxai/Como criar para Si um corpo sem Órgãos (2010), troço n.#3/Rhinoceros/Inumano(2011-2013), troço n.#4/frankensteinhéracles (2014-2015) e troço n.#5/furreba's lovers (2016-2017)

 

Em 2009 e 2010 nossos projetos foram fomentados pelo VAI – Programa de Valorização de Iniciativas Culturais. O Programa VAI, da prefeitura de São Paulo, tornou-se uma forte, importantíssima e fundamental contribuição para que nossas atividades fossem plantadas e perpetuadas. Com o auxílio dele foi possível estabelecer uma forte atuação, estreitando laços e parcerias com os grupos culturais atuantes na região. Nos anos posteriores continuamos nossas atividades realizando residências artísticas em alguns equipamentos públicos - no CDM Jardim Soares (2011-2012), no CC Penha (2013) e no CEU Inácio Monteiro (2014) - e em espaços residenciais - adentramos os interiores de residências onde desenvolvemos processos criativos com ‘’não atores’’ na ação que denominados de “InfiltrAções’’(2015).

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Nossos processos criativos propõem uma investigação sobre uma temática/texto e a partir disso a eclosão de materialidades estéticas de diversas linguagens, ou seja,  todas as materialidades estéticas que surgem deste são vistas como partes constitutivas dele, sem ter a obrigatoriedade de uma ''materialidade final'', ‘’acabada’’. Assim, foram incontáveis horas de atividades promovidas entre apresentações, oficinas, palestras, rodas de conversas, intercâmbios com coletivos, mostras teatrais e cinematográficas, ensaios abertos, exposições, etc, em diversas localidades, a saber, zona leste (morro do JD Etelvina, Guaianases, JD. Lajeado, José Bonifácio, JD. Soares, Itaquera, São Miguel, Inácio Monteiro, Ermelino Matarazzo, Penha e Vila Curuçá), zona sul (Jabaquara) e ABCD (Diadema). Além disso, tivemos participação em movimentos que buscavam melhorias para as políticas públicas culturais de nossa cidade, sobretudo das periferias.

 

Durante nossa trajetória, diversos artistas e não artistas passaram pela Descompan(h)ia e, com isso, fortalecemos nossos laços no extremo leste:  nos fortalecermos artisticamente e atuamos no fortalecimento artístico de nossa região.

Campo conceitual

A Descompan(h)ia se propõe a ser um entreposto artístico-cultural de troca entre os seus participantes e artistas, grupos e moradores da região, de outras regiões, de outras áreas artísticas ou/ e de outras áreas do conhecimento. Ela é um espaço no qual os artistas se encontram e criam conjuntamente. É um território livre, uma área de desestabilização de nossas certezas, um espaço para provocar e ser provocado artisticamente.

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O seu nome é conceitual e carrega consigo um pensamento e uma prática: Compan(h)ia é um jogo provocativo gerado a partir da tensão entre a forma erudita e popular do mesmo vocábulo, respectivamente, companhia e compania. O significado de companhia é múltiplo, a saber, ação de acompanhar; o que acompanha; reunião de pessoas que visam ao mesmo fim; comitiva; convivência; sociedade comercial formada por acionistas; tropa de infantaria comandada por um capitão; pessoal artístico de um teatro, de uma casa de diversões. O sufixo des- funciona tanto como elemento de intensificação quanto de negação. Acoplado à palavra companhia forma um neologismo que ao mesmo tempo nega e intensifica seus significados desta, por exemplo, a descompan(h)ia é mais do que a reunião de pessoas que visam ao mesmo fim ou é a reunião de pessoas que não visam ao mesmo fim? Ou são as duas coisas concomitantemente? Este ruído é desejado e serve de estímulo criativo para nossas criações. Além disso, demo_lições é um neologismo criado a partir da palavra demolições. Brincamos com a ideia de lições e ‘’demo’’ - demo de ‘’demonstration’’, algo ainda em feitura, sem os acabamentos da indústria e, também, de demolições que evidencia nosso objetivo de trabalhar com os restos, as ruínas, os escombros, com aquilo que fica à margem, esquecido, descartado, abandonado. Por fim, iLTDAs é uma brincadeira com a palavra empresarial LTDA (Limitada), termo jurídico, que representa a subjetividade das organizações empresariais como reinante no século XXI, para nós.

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Acreditamos que o conceito 'espetáculo' não consegue dar conta de nossos anseios estéticos e, por isso, procuramos e encontramos numa outra palavra conceitual, um tanto inusitada, algo que nos pareceu mais condizente: troço. O troço é uma coisa. E uma coisa é difícil de ser definida, delimitada, de se ver claramente seus contornos, é algo que nos escapa à explicação, mas que também tem em si algo de quase desprezível, de imprestável. O troço está à margem. A utilização de troço ao invés de Espetáculo como denominação de nossa criação traz consigo um posicionamento crítico sobre a sociedade contemporânea, compartilhando com pensamento proposto por Guy Debord em sua obra Sociedade do espetáculo. Além disso, como resultado estético, encontramos no troço a hibridização das formas artísticas.

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