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Troço n.#5/6personagensaprocurade1autor

Findo o nosso processo anterior troço n.#4/frankensteinhéracles, a partir de nossa imersão nas obras Frankenstein, de Mary Shelley, e Héracles, de Eurípedes, nós da Descompan(h)ia Demo_lições Artísticas iLTDAs começamos a buscar delinear com maior clareza aquilo que nos inquietava, excitava, estimulava coletivamente. Foi assim que chegamos, inicialmente, ao texto Seis personagens à procura de um autor, de Luigi Pirandello. No texto seis personagens de uma peça invadem o ensaio de uma companhia de teatro que estão ensaiando uma peça do Pirandello, a saber, “O Jogo de Papéis”, e reivindicam ao diretor que suas histórias sejam encenadas. Tratam-se de personagens de uma peça descartada por um autor e cujas histórias jamais seriam contadas e encenadas. Estas personagens tinham uma exigência: não queriam ser representadas em cena pelos atores mas sim por elas mesmas. Tal situação fez com que nós, da Descompan(h)ia, traçássemos um paralelo com nossa realidade no extremo leste da cidade de São Paulo e buscássemos ver o quanto o cidadão periférico, muitas vezes, é apartado da história, são personagens postas de ‘’escanteio’’, ‘’abanadonadas’’, ‘’desprezadas’’: embora sejam ‘’personagens que existam’’, que tenham suas histórias, não lhes está garantido o direito à autoria, não figuram nas histórias oficiais.

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A proposta de realização de um novo troço, inédito, vem contemplar nosso desejo em aprofundar nossas investigações cênicas e de ação cultural. Nosso processo criativo carregará consigo a tentativa de materialização das diversas vozes que perpassarão por ele, trazendo à tona discursos não oficiais, que estão à margem, apartados da história oficial. Pretendemos nos lançar mais epidermicamente ainda no terreno da marginalidade - mas o que é ser marginal? O que é estar à margem? Não delimitamos o conceito de marginalidade somente no sentido de desprovidos, mas também daqueles que tem uma outra história que se torna invisível porque não interessa ser revelada, porque se mantém sufocada, nos escombros. Para nós, a revelação dessas outras narrativas não oficiais assume um posicionamento político dentro da sociedade, não no seu caráter panfletário ou partidário, mas sim na sua dimensão ética. Em outras palavras, abordaremos a marginalidade não somente da situação econômica e social, mas dos discursos e dos desejos.

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Nosso troço n.#5/6personagensàprocuradeumautor carregou consigo o desejo de se tornar fruto de um intenso diálogo com a comunidade, que se torna participativa e atuante. Em geral, os grupos acabam se fechando dentro de seus processos de criação e as trocas somente ocorrem no momento em que o espetáculo chega ao público. Buscamos ampliar consideravelmente essa troca ocorrendo durante o processo de criação através da consolidação de espaços que favoreçam o encontro entre os participantes de nosso coletivo e outros artistas e membros da comunidade. Assim, a obra criada recebeu contribuições diversas de inúmeras outras pessoas que passassaram por nossas atividades do processo criativo. Como nos processos anteriores, abrimos a possibilidade de artistas e/ou moradores da comunidade integrarem nossa obra cênica.

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